quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A Cultura Popular, o Infantil e o Meio Ambiente



Série Catalendas

Com o intuito de apresentar ao público a literatura infantil focada no tema meio ambiente, é proposta aqui a exibição e breve análise do episódio “O Curupira” pertencente à série Catalendas, um programa elaborado pela TV Brasil Pará em associação à TV Cultura, que apresenta ao público infantil lendas regionais, contos populares e fábulas que o povo brasileiro conta e reconta por gerações; além de ser uma amostra de como a literatura popular, folclórica e oral possui papel importantíssimo nas sociedades desde seus primórdios.

O episódio inicia-se com a apresentação dos personagens principais da série, Dona Preguiça (um bicho-preguiça) e Preguinho um macaco-prego que sempre quando tem oportunidade vai até a janela da casa de Dona Preguiça, conversar sobre algum acontecimento interessante vivido por ele e, assim, surge à oportunidade dela lhe contar sobre seus “causos” maravilhosos. Neste vídeo em especial, a Preguiça lhe conta como um caçador muito atrevido consegue, com a ajuda de um Pajé poderoso, se safar das traquinagens do Curupira, personagem das lendas indígenas anteriores a vinda dos colonizadores, que habita as matas fechadas do país e as protege contra todos aqueles que tentam prejudicar os animais e a vegetação.

A Trama

A estória retratada no vídeo “O Curupira” carrega consigo o tema nocional de preservação ambiental, que possui como ser emblemático este personagem fantástico, que funciona como personificação da mãe natureza para agir em sua própria defesa. Por ser uma criatura encantada detém forças desconhecidas dos homens, e, como demonstração de seus feitiços faz com que o caçador tenha tonturas, desmaie, e quando o mesmo acorda sai perambulando atordoado e perdido dentro da floresta, com isso, percebe-se que a intenção do Curupira é punir o homem com uma espécie de castigo e não com uma sentença mortal, já com o intuito que o protagonista aprenda com seus erros, assim tem-se a “moral da história”, o que, de certa forma, transforma a lenda em fábula.

A trama ganha vida nesta contraposição natureza versus homem, sugerido com o confronto entre Curupira e Caçador; para uma reflexão sobre questões da atualidade como a caça predatória clandestina, a exploração vegetal exemplificada com o desmatamento para formação de pastos em fazendas sem controle ambiental, exploração de madeira nobre, diminuição de matas ciliares, uso excessivo de materiais de difícil decomposição, a utilização de diversos produtos químicos nocivos que tornam a vida humana mais cômoda, mas que quando lançados na natureza causa efeitos catastróficos e desconhecidos do homem, assim como os feitiços do Curupira a natureza revida aos danos da qual é vítima.

No caso da personagem Caçador, inimiga do Curupira, vê-se naquele um ser sem consciência que retira da mata mais do que precisa e não raciocina sobre seu ato predatório, claramente simbolizado é o ser humano explorador que mais tarde aprenderá que sua não reflexão acarreta consequências desastrosas. Para se esquivar dos encantos do Curupira o Caçador conta com a ajuda do Pajé de uma aldeia indígena, personagem elevado, detentor de poderes de cura e restaurador da ordem, este detém o conhecimento de como desfazer os encantos do Curupira, logo ele benze o protagonista e o libera do feitiço, associando assim a imagem do índio a um elo de respeito e sabedoria entre o homem e a natureza, o real e o imaginário.
 
Bonecos do Pajé e do Caçador 

Para que o telespectador seja inserido na estória, o vídeo conta com os diálogos entre a D. Preguiça e Preguinho, personagens que com o recurso de animismo ganham vida para tratar com linguagem simples e informal, de fatos que são de contexto humano; nota-se que ambos os animais são visados na situação real de mundo pelos caçadores e colecionadores, mas protegidos por leis do “IBAMA” órgão responsável pela proteção da flora e fauna brasileira, destarte, a criança ou qualquer telespectador fará ponte de sentidos entres os personagens e as questões ambientais.

Com relação ainda a D. Preguiça, ela funciona na estória como símbolo do ser humano adulto, detentora do conhecimento de mundo que abarca a literatura popular oral e que no contexto do vídeo firma-se como contadora de estórias, sua linguagem é coloquial proporcionando simetria entre público (infantil) e o assunto tratado. Para acompanhá-la e reforçar a idéia de simetria aparece o Preguinho, um personagem com traços cômicos que simboliza o público ouvinte, particularmente à criança, que por meio dos exemplos apresentados nas estórias, neste caso o Curupira, aprende a lidar com situações cotidianas.

A fim de que toda a trama adquira forma, os contos populares possuem de acordo com Karin Volobuef (1993), uma situação introdutória como o momento que o homem vai à mata para caçar e é observado pelo Curupira, ele logo percebe que aquele excede na caça, o que demonstra a insistência do Caçador na quebra dos valores de preservação, este então é um problema que resultará na punição do Caçador que será aplicada pela própria natureza exigindo a conscientização do homem, mas a partir do momento em que o caçador se conscientiza do mal que inflige aos animais consegue ultrapassar suas provas, ocasionando a aparição da figura do Pajé que desfaz o feitiço e proclama ao caçador a moral da história encerrando com um final feliz.

Contudo nota-se que o vídeo trata de uma estória que é passada oralmente às pessoas, não há um autor específico e conseguintemente um livro publicado, sua materialização escrita é da história recente, portanto para o autor Azevedo (2001) existem características que formalizam esses contos, a exemplo do Curupira, como literatura cultural e popular, que possui como marca a oralidade, logo, é ferramenta primordial às culturas sem escrita, adapta-se para a plateia por meio do vocabulário familiar e cotidiano ao utilizar fórmulas verbais, lugares comuns e clichês, trabalhar com recursos teatrais de tom exagerado, empregar redundâncias, tom de confidências, ditados, trocadilhos, aliterações, rimas e refrões, mas evitando períodos longos, conceitos e imagens abstratas, orações subordinadas, a voz passiva e todo o contexto apresentado em cenário teatral, pois, os personagens são representados por bonecos animados, acrescentando mais um conhecimento e acesso à criança que nunca teve contato com tal diversão, ou seja, o teatro de fantoches.

Conclusão

Por todo o contexto apresentado envolvendo a lenda Curupira, percebe-se como é marcante a cultura popular ou ciência do povo em nossa sociedade, seu colorido, traços cômicos; intervenções instrutivas e linguagens simples que trabalham em favor da absorção de conhecimentos de valoração universal. Um deles é o respeito à natureza e preservação dos mais variados seres.

Uni-se a estes o respeito á criança, personagem que em construção adquire desde cedo conceitos e conhecimentos. Desta forma, o vídeo Catalendas, A Lenda do Curupira, trata de forma criativa a abordagem do tema meio ambiente, ecologia; com base não só no caráter utilitário instrutivo, mas também levando em conta o despertar imaginário da criança.

Referências:

AZEVEDO, Ricardo. Elos entre a cultura popular e literatura, 2001.
Disponível em: http://www.ricardoazevedo.com.br/artigos/ acesso 14/09/2013.

            BOLOBUEF, Karin. Um estudo do conto de fadas. Revista de letras. São Paulo: UNESP, v. 33, p. 99-114, 1993.

A lenda do Curupira – disponível em:: https://www.youtube.com/watch?v=tdA6-J45D2c. Acesso em 14/9/2013.


TV CULTURA: http://www.portalcultura.com.br/node/26 acesso em: 14/09/2013.



Dona Preguiça
GT 4

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