domingo, 18 de novembro de 2012

O trocadilho mágico do ‘Grilo grilado’


A poesia infantil consiste em magia, magia do universo poético — onde o insólito permite à criança “viajar”, imaginar por “outros caminhos”, e, ao mesmo tempo, se encontrar, se identificar, encontrar seu mundo e sua subjetividade nas múltiplas significações do texto poético. Para tanto, é possível ilustrar essa verdade nos poemas que abordam a temática infantil.

Mais do que o contato com a língua escrita, a poesia permitirá à criança dar continuidade à experiência com seu jogo de palavras, assim, resgatando a oralidade. Poesia, então, além de estar caminhando junto com a lógica do pensamento infantil, com a simplicidade em abordar assuntos e com um ritmo todo especial, faz com que a criança volte ao seu próprio mundo, ali se identificando, e nisso ela passa a apreender o mundo, proporcionando um modo de transgredir a lógica que circunda a sua linguagem cotidiana, criando essa aproximação, permitindo que se amplie seu imaginário, o seu universo de significações – e quem discorda que tudo isso possa ser considerado um tipo de magia?


 (...) em contato com o texto poético, a criança é tomada por vivências que a distanciam de seu ambiente familiar, lingüístico e social. Todavia, a configuração eminentemente ordenadora dos estímulos do mundo poético (os ritmos, a criação de vínculos entre objetos isolados) garante que esse deslocamento se processe num clima de segurança, em que o incomum produz prazer, e não temor.  (Bordini. 1990, apud Machado, 1996, p. 45)

Essa magia poética pode ser ilustrada pelo poema ‘Grilo grilado’, de Elias José:

GRILO GRILADO

O grilo,
coitado,
anda grilado,
e eu sei
o que há.
Salta pra aqui,
salta pra ali.
Cri-cri pra cá,
cri-cri pra lá.
O grilo,
coitado,
anda grilado
e não quer contar.

No fundo,
não ilude,
é só reparar
em sua atitude
pra se desconfiar.
O grilo,
coitado,
anda grilado
e quer um analista
e quer um doutor.
Seu Grilo,
eu sei:
o seu grilo
é um grilo
de amor.


Em uma leitura inicial, é possível subentender que esse grilo está com algum problema que precisa resolver, mas ao longo do poema, percebemos que o problema dele é outro, e não necessariamente um problema. Acontece um jogo que se faz com o grilo, o tratamento leve e bem-humorado da temática amorosa, a sugestão da inquietação pela própria estruturação do poema, o insólito de um grilo estar apaixonado, e a identificação do leitor com o poema é imediata. O poeta usa a figura de linguagem onomatopeia para dar ritmo e efeito sonoro ao poema, repetição esta que se faz presente ao longo do texto, onde a sonoridade vira uma grande brincadeira. O ‘cri-cri’ reproduz o mais próximo possível o som do grilo, por isso classificamos esse som como uma onomatopeia pura. Esse é um dos recursos expressivos mais usados nas poesias infantis, pois concentram a melodia, a harmonia e o ritmo da frase, servindo para produzir esse efeito especial.
Cumpre, por fim, assinalar que, se tratando deste poema, o trocadilho presente na linguagem abordada envolvendo a significação da palavra ‘grilo’ – que tanto pode significar um animal assim como aquele ‘probleminha’ a ser resolvido. E a partir deste trocadilho é possível chegar-se ao riso.



Referências:
http://ler-com-prazer.blogspot.com.br/2009/10/o-grilo-grilado-elias-jose.html

MACHADO, Maria Zélia Versiani. Cadê a Poesia que Estava Aqui? Intermédio.

GT 1 – Poesia Infantil

2 comentários:

  1. Esse texto e muito legal gostei muito muito muito muito muito

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  2. Tudo o que se relaciona à criança, mostrando palavras de fantasia, faz muito bem a ela e, por que não dizer aos adultos? Estou procurando, aqui, como é o nome do "som do grilo", mas não o CRI-CRI natural, mas a onomatopeia do bichinho.

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