domingo, 28 de outubro de 2012

Valentina, a princesa da “Beira do Longe”- uma história atual

Sobre o autor

O livro Valentina foi escrito por Márcio Vassallo e publicado em 2007, pela editora global. Vassallo participa sempre de mesas-redondas, em encontros de mercado editorial, literatura e educação. Dentre as suas obras podemos citar algumas infanto-juvenis: A Princesa Tiana e o sapo Gazé (1998), A fada afilhada (2001), A Professora Encantadora (2010), Minha Princesa Africana (2011) e duas de suas obras não-ficcionais: Mario Quintana - coleção Mestres da Literatura (2005), Mães: o que elas têm a dizer sobre educação (2007). Selecionamos para a discussão neste artigo os aspectos mais relevantes da obra e ressaltamos as características que a tornam tão atual e singular.


Porque o conto é atual   
                    
Valentina é um conto atual por conter aspectos inovadores. Ele traz como personagem central uma princesa que rompe com o modelo tradicional – ela é negra, tem orelhas de abano, pernas compridas e usa óculos. Outra inovação é a abordagem da questão social, visto que a história se passa em um morro do Rio de Janeiro, na favela. Essa questão não é percebida pelo leitor através do texto verbal, mas devido às imagens que representam a princesa e o espaço onde vive. Valentina é uma princesa simples que não se identifica com o luxo e a beleza das princesas clássicas. As ilustrações de “traços simples e fortes (...), são feitas a partir de papel reciclado, papel de jornal, recortes, fotografia...”. (ROCHA, 2012). Essa composição pode ser observada até mesmo na capa do livro, pois a coroa da princesa é de jornal.

 
Uma história narrada sob a perspectiva da protagonista: o olhar de Valentina 
 
Valentina não é uma menina com um título de nobreza, ela não tem “sangue azul”. A garota é uma princesa porque a fantasia é criada a partir de seu olhar com relação à sua realidade e porque seus pais a tratam como tal, dentro de suas limitações e possibilidades. Eles a protegem do mundo real. Ela mora em seu “castelo” sem conhecer os problemas sociais, tais como a miséria e a violência. Um exemplo disso aparece na expressão “dragões que cospem fogo”. O autor usa uma metáfora para mostrar que os pais defendem a "princesinha" dos bandidos e da violência existentes em algumas favelas.  Valentina vive longe dos perigos que o mundo pode oferecer. Ela acredita ser uma princesa e não entende o motivo que faz seus pais saírem de casa todos os dias, já que são o “rei” e a “rainha”. Então, curiosa, a menina decide conhecer o tão falado “Tudo” que é a cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, o leitor só compreende a expressão “Tudo” no final da história. Essa tomada de consciência ocorre por meio de uma página ilustrada com uma foto em preto-e-branco da cidade do Rio de Janeiro. Nessa imagem, a favela está pintada com aquarelas de cores que variam do amarelo ao marrom escuro e está situada em um morro, distantante do grande centro capitalista da cidade do Rio de Janeiro. Percebemos aí um contraste entre “Beira do Longe”, lugar distante onde Valentina mora ,e o lugar chamado “Tudo”, que todos veneram como o melhor, o mais agradável.

Ao descer do castelo, junto com seus pais, ela descobre que lá embaixo, o “Tudo”, era bem diferente da sua realidade. Todas as pessoas eram iguais, pois falavam e vestiam-se da mesma maneira, além de ter os mesmos desejos. Essa descoberta ilustra uma sociedade artificialmente homogênea.  A garota conhece pessoas que agem da mesma forma para serem aceitas, para se adequarem às convenções sociais.

O encantamento singular e a crítica social
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O encantamento da história não está nos feitiços, magias ou metamorfoses, mas na ilusão criada pelos pais para preservar a pequena filha dos riscos de se viver nas condições que lhes restam por não pertencerem à burguesia do Rio de Janeiro, que na maioria das vezes é indiferente a essa questão. Valentina é uma narrativa curta que mostra alguns valores, como a crença no trabalho para prosperar na vida, conforme se depreende da seguinte frase:“(...) o rei e a rainha diziam que só saiam do castelo para a princesa ser alguém na vida”.


Podemos perceber, na frase acima, a forte presença da ideia de que é necessário trabalhar para possuir condições financeiras melhores e, consequentemente, ter uma vida mais tranquila.
 
A atitude dos pais de Valentina ao dizerem que saem de casa para que ela seja “alguém na vida” reflete a visão de que quem mora na favela é "ninguém", enquanto quem mora nos centros urbanos (tratados no conto como "Tudo") é "alguém". Essa maneira de ver o mundo é rompida quando Valentina diz que não quer ser ninguém, porque já é alguém. Na realidade, a visão dos pais considera que só é reconhecido socialmente, com seus valores, direitos e deveres, aqueles que “tem” poderes, uma condição socioeconômica estável e pertencem à burguesia da cidade grande. Já a visão de Valentina é de natureza ingênua, pois notamos, através da narrativa, que Valentina não sabia o que significava realmente a expressão “ser alguém na vida”.
 
A partir dessa narrativa, o autor critica a visão capitalista de que o “belo” e o “encantado” se restringem somente a contextos burgueses. Observamos, através dessa narrativa, que o autor trata a questão da existência da desigualdade social, a divergência entre o mundo capitalista e a realidade das pessoas marginalizadas, mas sem descartar a possibilidade de uma criança que vive na periferia dos grandes centros urbanos - e que não tem conforto, luxo, e nem riquezas - de viver seu próprio conto de fadas.
 
Verificamos que Márcio Vassallo aborda a questão dos valores sociais, das diferenças étnicas e de crenças, entre outros fatores que ajudam na reflexão sobre o respeito para com a diversidade social e cultural do Brasil, já que a história se passa em ambientes pertencentes à realidade de nosso país como a cidade do Rio de Janeiro e a favela. 

A seguir, temos um pequeno vídeo que trata da principal temática do livro, vale a pena conferir!

                                   



Referências
 

ROCHA, S. de O. Crítica de Valentina. Site Marcio Vassallo: 2012. Disponível em:

VASSALLO, M. Valentina. Ilustrações de Suppa. São Paulo: Editora Global, 2007.



GT 5: Contos de Fadas na Atualidade


Um comentário:

  1. Retirei a última parte do texto porque não havia nenhuma sugestão/indicação de atividade em classe conforme indicava o subtítulo. (prof. Marciano)

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